centro clínico norte I, shln bloco k sala 202
asa norte . brasília
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o trabalho
Toda psicanálise começa de apostas. Uma pessoa se dispõe a falar de si e a psicanalista se dispõe a escutar. Os desdobramentos disso precisarão ser vividos para qualquer compreensão.
“Que tenho a falar sobre mim hoje?”
Nada é mais revolucionário do que se dar conta de que há sempre algo a dizer sobre si – e que falar sobre si mesmo é transformador. Quando estamos em uma jornada de análise, passam os anos, surgem histórias, nos repetimos, nos reviramos. Mudamos. Nos mudamos.
Encontrar a perenidade do mundo interno e seus ciclos é possivelmente uma das coisas mais difíceis e bonitas de se estar vivo. Escutar-se. Por vezes, reconhecer-se. Por vezes não e então lançar-se às próprias estranhezas.
Alcançar que há muito do desconhecido que é nosso. O desconhecido eu sou eu também.
Falar a um psicanalista enlaça as nossas tentativas de nomear o sofrimento e assim cuidá-lo.
Falar das queixas, dos sintomas, dos terremotos que sentimos por dentro, dos desmoronamentos, das falhas antigas, dos desamparos.
Falar das coisas que insistem e parecem não mudar. Dizer daquilo que não suportamos sobre nós mesmos.
Falar do que sequer sabemos bem, falar de afetos que não tem forma, nome. Das coisas que fazem parte do nosso primitivo, do que nos angustia profundamente.
Nos dias em que impera o silêncio, a falta, o não-saber, o não-dito, há sempre algo de que se ocupar – mesmo que seja se ocupar do vazio.
Em parte, falar de sofrimento é o que se faz em análise. Mas estar em análise tem também algo de se dar conta que nossa existência está para além das queixas. Quando se abrandam as agonias, há também algo a se dizer sobre si.
Entre velharias e novidades, a fala tem força e é transformadora. Muda o tempo, as cidades, os afetos, o outro.
Aquilo que a palavra toca já não é mais a mesma coisa.